segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Drogas: Prevenindo e quebrando tabus

Dia 09/01/2014, Escola Antonieta Siqueira, 13h, Fortaleza - CE:



Esse foi o tema da aula de exposição que permitiu o debate horizontalizado, positivo e informativo que pude oferecer aos alunos da Escola Estadual Antonieta Siqueira, bairro Pici, Fortaleza - CE. Havia um espaço apropriado para a discussão, apesar da acústica ruim, porém tive acesso ao projetor para apresentação de slides, visando uma melhor dinâmica e pedagogia, além do espaço local ter dimensões que equivalem a um mini-auditório com capacidade para 60 ocupantes. Foram duas turmas presentes: uma turma do 1º ano e outra do 2º ano, ambas do Ensino Médio. O método de seleção das turmas foi desnecessário, já que no turno da tarde (horário em que foi realizado o trabalho) havia justamente uma turma de cada série, não havendo possibilidade para viés de seleção. Foi decidido ser mais coerente evitar a turma pré-vestibular (3º ano do Ensino Médio), pois já era uma idade mais avançada (boa parte maior de idade), fugindo da população-alvo da pesquisa (maioria entre 14-17 anos), além de muitos não estarem presentes no ambiente escolar devido estágios em outros locais e demais compromissos, exemplificando: vestibular, escolas técnicas, Enem e outros processos seletivos. Importante salientar que foi estabelecido contato prévio com a direção da escola, e desde então a própria escola incentivou o trabalho, jé que a essência da pesquisa é a educação. A primeira impressão que pude ter dos alunos ao entrar em sala foi positiva, pois os participantes (alunos) se surpreenderam com entusiasmo ao ler o tema do slide de capa contendo justamente o título dessa postagem e estampado na gravura acima. Estavam presentes exatos 44 alunos (englobando primeiro e segundo ano conforme já mencionado), já que é frequente e esperado uma taxa de evasão por diversos motivos que não interessam no momento. Todos sentaram, identifiquei-me apenas como David Pinheiro, e enfatizei a importância que, apesar de ser médico como profissão, tornava-se necessário deletar o "doutor", já que aquele momento não era uma consulta e sim uma troca de experiências, mais especificamente de minha parte com informações técnicas que seriam repassadas e da parte deles com depoimentos, experiências e dúvidas que enriqueceriam comprovadamente a discussão. Todos compreenderam aparentemente o recado e enfatizei a importância de que a intervenção é importante, pois aquele era um momento de aprendizado mútuo e não uma aula convencional ou uma palestra unidirecional. Coloquei como fundamental a participação e interesse para aquele tempo dedicado trouxesse de fato a recompensa de assimilar dados sobre um tema polêmico e necessário desde os primórdios da existência humana. Acredito que esse diálogo inicial contribuiu para uma conversa sem pedestal, sem hierarquia e consequentemente mais próxima daqueles jovens.

Antes da apresentação, foram distribuídas duas cópias referentes ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, e como a imensa maioria dos alunos eram menor de idade (apenas cinco alunos tinham idade superior a 18 anos), então expliquei que precisavam levar ao seu domicílio para o pai ou responsável ler e, se concordar, assinar  o termo para enfim retorná-lo à escola e ser entregue à respectiva direção que já onde já havia sido previamente comunicada para facilitar o processo caso a pesquisa necessite ser submetida ao Comitê de Ética, sendo obrigatória a existência dos formulários devidamente assinados.

A próxima etapa da pesquisa, sempre havendo a preocupação de explicar aos participantes para melhor adesão e compreensão do estudo, foi a distribuição do pré-teste (ANEXO 1): questionário com questões diretas e objetivas, a maioria com respostas de múltipla escolha (marcar "X" na opção ou nas opções que o aluno voluntário julgasse correta ou corretas) a fim de quantificar estatisticamente o conhecimento prévio adquirido sobre o tema drogas, além do questionário abranger alguns aspectos sociais e familiares impostantes de cada aluno sobre o tema drogas. Foi necessário aproximadamente 20 minutos para que todos pudessem entregar de volta os questionários respondidos, porém não identificados conforme orientados (o cabeçalho continha apenas os campos para gênero e idade para manter o anonimato necessário). Após a apresentação, que será detalhada posteriormente, os questionários referentes ao pós-teste (ANEXO 2) contendo questões semelhantes em relação ao pré-teste justamente para avaliar o aprendizado estatístico após a exposição e debate, além de outros questionamentos também contidos no pós-teste, avaliando a opinião do aluno sobre a explanação do conteúdo propriamente dito.

Iniciada finalmente a apresentação em slides (ANEXO 3), padronizamos como definição mais ampla de droga qualquer substância (lícita ou ilícita) que pudesse alterar o comportamento normal do indivíduo. A apresentação foi marcada pelos seguintes tópicos explanados e debatidos:

- Introdução: A ideia central desse tópico foi provocar ainda mais a curiosidade dos alunos participantes com perguntas com a promessa de serem respondidas durante a aula.
- Definição de droga: importante citar as mais diversas definições, explanando e ouvindo opiniões, muitas vezes colocadas como exemplos (mais citadas: álcool, maconha, crack, dentre outras também citadas). Também foi abordado sobre classificação das drogas.
- Atualidades sobre drogas: foi discutido nessa pauta quais são as drogas mais consumidas, diferença entre drogas lícitas e ilícitas. Também foi incluído na discussão as diferenças entre os usos medicinal, recreativo e religioso, além de esclarecer sobre as definições não sinônimas usuário e dependente quimíco.
- Principais fatores relacionados à saúde: foi abordado peculiaridades de acordo com o tipo de droga (destaque para álcool, cocaína, inalante, LSD, maconha e tabaco). Também debatido sobre qual tratamento adequado oferecer ao dependente químico, e se a internação compulsória pode ser considerado um tipo de tratamento ou utilizado como "faxina social" dependendo da situação.
- Alternativas Disponíveis: Proibição, Legalização e Descriminalização. Citado alguns exemplos de países que legalizaram ou descriminalizaram a maconha, buscando relacionar com a realidade brasileira que proíbe a maconha para uso recreativo, porém existem relatos da maioria dos participantes que para conseguir a maconha não existe dificuldade devido o tráfico presente no bairro. Citado e comentado casos atuais como Uruguai e USA (Colorado e Washington) que estão justamente liberando a maconha para uso recreativo para enfim combater o narcotráfico, já que a "Guerra às Drogas" é vista como um desastre. Outros países como Holanda e Portugal também foram temas da aula, incluindo os índices positivos com relação à redução da violência após a legalização.

Finalmente citei como principal fonte bibliográfica para confecção dos slides o livro Almanaque das Drogas (Paul Tarso), capa abaixo, já que o material é deveras didático, de fácil compreensão e estimula o saber, informando e prevenindo sobre os males dos narcóticos. Outros materiais lidos encontram-se nas referências bibliográficas.

Finalizada a aula-debate, foi sugerido o documentário encontrado grátis no site YouTube intitulado "Quebrando o tabu" (Clique aqui para acessar o documentário), com participação de notórios representantes políticos, artistas e profissionais de saúde especialistas no tema drogas, promovendo uma reflexão que nos torna menos vulneráveis ao mundo das drogas, sejam lícitas ou ilícitas, e essa é a verdadeira intenção desse projeto: a prevenção, fazendo com que o próprio jovem possa tomar a decisão se vale ou não a pena recorrer a alguma droga psicoativa.

Ao sair da sala, cada participante recebeu um encarte contendo um informativo sobre as principais drogas lícitas e ilícitas como um material complementar para ler e fundamentar algumas informações que forma ou não abordadas durante o debate.

Acredito que a aceitação foi boa, já que 44 alunos consideraram o momento do debate satisfatório, apenas um optou a apresentação como indiferente (de acordo com os dados colhidos no pós-teste), demonstrando que existe o interesse do jovem com relação ao tema, resta às autoridades políticas vinculadas com saúde perceberem isso e investir mais em educação sobre drogas, já que assustar o jovem com as consequências das drogas não parece ter surtido o efeito esperado.



          

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O que seria um dia (quase) intragável!

Hoje... Que dia é hoje? Enfim, sei que é quarta-feira, então vou reformular a pergunta: que dia seria hoje? Essa é sem dúvida a melhor pergunta. Mas e quem sabe essa resposta. Hoje seria um dia de praia, ou de trabalho, ou um dia qualquer, quem sabe um dia no ócio... Quaisquer dessas opções seriam válidas. Um dia que não desejo a ninguém é o dia ruim, cinza, esquecível, terrivelmente lento que se alastra como um câncer tornando as horas torturantes momentos que parecem infindáveis. Quem sabe esse dia passe...

E por que esse sentimento de definitiva impregnação do tédio? Esse questionamento eu respondo: porque nada sou nesse momento, ou pelo menos nada sinto ser. Ouvir Beatles: uma boa saída. O ideal era concomitantemente abrir uma cerva de trigo gelada para constatar o tratamento de choque antidepressivo... Mas o trabalho à noite me impede dos exageros psicoativos. Enfim, bom mesmo é curtir uma boa música e quer saber: isso é realidade, fugir dela é fugir de si, então melhor continuar nessa vida real sem mudar de canal.

Amanhã serei motorista do Papai que realizará teste ergométrico e ressonância magnética em ombros direito e esquerdo, enfim, ainda me encontro nas minhas pseudo-férias. E na verdade gosto disso, enfim é uma oportunidade de colocarmos (eu e meu pai) os papos em dia. 

PS.: Amanhã será minha primeira exérese ungueal, ou seja, extração de unha (do pé), ainda consequência das trilhas "leves" que fiz na Chapada Diamantina e agora, graças a minha inexperiência com botas e meias, estou arcando com as consequências. Ano Novo, Unhas Novas! Eu já tirei unhas dos outros, bem mais fácil... Destaque para o cirurgião de manhã que é meu nobre amigo de turma! (isso até me tranquiliza, confio nele).

PS²: O leitor pode observar que houve uma mudança do humor durante o texto. Acredite, foi o vídeo dos Beatles, injetou uma boa dose de endorfina no meu organismo!  



segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Nada Especial, exceto para mim!

Apenas o que já fiz e o que pretendo fazer nessas 2 semanas com carga horária tranquila (pasmem, tranquila mesmo, são apenas 18 horas por semana! rsrs Mas não fiquem com muita inveja, pois essas são minhas "férias").

Então, ontem à tarde chegando da caótica prova de residência (SURCE 2013), fui forçado a ficar em casa, pois ainda estava me recuperando de uma conjuntivite viral (provavelmente repassado em algum desses plantões), enfim ficar de molho teve seu valor, dormi, assisti filmes bestas, programas de TV bestas e obviamente naveguei na internet (Lê-se: Facebook, Youtube, E-mail, Kibeloco, G1, Facebook, Youtube, E-mail, G1,...).

Hoje acordei e rendi pela manhã: fui pegar um transbike (um equipamento que instalado na traseira do carro faz com que você consiga transportar sem dificuldades uma ou até duas bicicletas sem dificuldade num carro pequeno) na casa do amigo do meu irmão, fomos na UNIFOR, e ainda destroquei a bike retrô que estava emprestado por 2 semanas, mas prefiro a minha mesmo, bike é igual a mãe, cada um tem a sua. Enfim, o que a bike retrô tinha de estilosa e bonita, também tinha de complicada e cheia de frescura! Trazer minha bike de volta para casa me trouxe uma sensação de plenitude!

Á tarde dormi. Hoje à noite vou me encontrar com amigos de colégio, mas que persistiram a amizade, mesmo com os rumos e profissões diferentes (médico, biólogo, geógrafo, arquiteto, psícólogo, etc). O psicólogo vou ter que visitar depois (se der tempo), pois recentemente alguns amigos dele estão com a paciência esgotada com ele por motivos que não cabem aqui. Mas enfim, estou na semana de quase folga e quero rever todos meus amigos, principalmente os que estou afim de ver (na verdade exclusivamente os que estou afim de ver).

Dispeço-me com a seguinte conclusão: esse blog foi retomado, hoje apenas tirei a poeira nele. Amanhã digitarei com mais propósito! Apenas um plano hoje, cerva gelada, tirando gosto com conversas ao vento e o que mais aparecer...

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Dia 13... Também conhecido como o melhor dia do mês!



O Dia 13 às vezes cai na segunda, na terça, enfim, até dia domingo pode ser um dia 13, além da temível sexta-feira 13, sempre assombrando crianças e até marmanjos com as lendas mais absurdas, porém que mexem com o imaginário do povo. Enfim, o número 13 foi consagrado como o número do azar ou má sorte, como queiram, mas venho aqui defendê-lo, em alto e bom som, pois na verdade esse número, há 8 meses, está sendo o melhor dia do mês. E por que há exatamente 8 meses? Explico...

Dia 13 de janeiro de 2012: era o 13º dia do ano, enfim, estava no primeiro dia 13 do ano que foi consagrado recentemente como o ano do fim do mundo. Que data intempestiva, mas engana-se o leitor, pois nessa data estava eu ansioso, aguardando rever alguém que conheci no ano passado, mais precisamente dia 25 de dezembro de 2011, ou seja, havia apenas 18 dias que a conhecia, porém já sabia o que fazer: comprar flores, ir a um bom restaurante, tomar um bom vinho e pedi-la em namoro com o buquê em meus braços, aguardando o "sim", obviamente... Mas para isso precisava resolver alguns pontos conflitantes. Então vamos por partes:

1) Não conhecia restaurantes, enfim, até o momento preferia os bares, e me bastava até então. Bom, nesse caso não tinha o que fazer, fui buscar ajuda com amigos e até mesmo com minha convidada especial (a futura dona das flores) que estava na Europa em passeio com sua mãe (futura sogra, mas na época ninguém sabia disso), e graças a uma tecnologia chamada Internet, conseguimos nos falar pelo Skype praticamente todos os dias de sua viagem, o que foi fundamental para "quebrar o gelo" do reencontro pós-viagem. Então não titubeei, perguntei sobre um restaurante, dando a impressão que entendia alguma coisa, mas sinceramente mal conseguia pronunciar o nome: "Conhece o Café Pagliuca? Parece que lá é legal!" (segundo um amigo conhecedor de restaurantes). Ela respondeu: "Sim, lá é ótimo!". Então batemos o martelo! Bingo!

2) Onde comprar flores? Decididamente não era minha praia, mas sabia que era fundamental e sinceramente estava existindo o clima para isso, como se o mundo conspirasse a favor mesmo, sei que pode parecer estranho, mas peço ao leitor que simplesmente aceite a condição que eu estava apaixonado, e quem está assim simplesmente acredita que o mundo está se lixando pro resto do mundo, os holofotes estão virados para você, enfim era a minha chance. E quando achei que ia ter trabalho pra achar uma floricultura, surge uma no caminho de casa. Desci, encomendei o ramalhete de rosas vermelhas (resolvi não fugir da tradição, enfim já estava arriscando muito pedir alguém em namoro no dia 13!)

3) Flores compradas, restaurante escolhido e de comum acordo, só faltava agora o vinho. Mas para isso, fui bem claro no encontro, já no Café Pagliuca: "Vamos escolher qualquer um!" Enfim, até a opinião do garçom apelamos, fazendo aquela perguntinha bem objetiva: "Qual vinho daqui os clientes mais pedem?", Nossa pedida agradou muito, inclusive pedimos outra garrafa, pois além do sabor do vinho semi-seco, a conversa, o olhar, a companhia, a música ao vivo tudo estava indo conforme o combinado e naturalmente agradável. Estávamos leves, mesmo com a carga de importância desse encontro, era como se soubéssemos o que estava por vir! 

Já no restaurante, ela estava linda, espontânea como sempre, os papos se complementavam, os links eram constantes, enfim hora de ir embora. O tempo passou rápido, bateu o frio na barriga, as flores no porta-malas aguardando o momento clímax da noite quase perfeita (já explico o motivo do "quase"). 

Quando chegamos em sua casa, ainda no carro, noite tranquila, agradeço o jantar, ela é surpreendida quando peço para esperar, olhos assustados e as rosas surgem diante dela, inclusive acredito que elas estavam ainda mais lindas. Peço em namoro em seguida (segui o conselho chicobuarquiano "Aja duas vezes antes de pensar"), e o "quase perfeito" veio à tona quando ela disse: "Preciso pensar!"

Na verdade essa história é engraçada, por mais frustrante que possa parecer para quem ler, pois como sempre digo para ela, os olhos disseram "sim", então incrivelmente fui para casa tranquilo com a certeza que nossos olhos reproduzem a vontade do nosso coração. Seria o porta-voz cordial! 

Assim passam-se 8 meses, amanhã é dia 13 e sinceramente: graças a Deus!   

MORAL DA HISTÓRIA: É possível sair com uma garota no dia 13 do mês sem entender de vinho, nem de restaurante e nem de flores, porém em uma noite resolver todas essas questões. Para isso basta entender o idioma do coração, logo tudo se encaixa. "Que a noite traga alívio imediato!"

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Dignidade

Porque acordar almejando amar e mudar? Eis a questão de hoje. E eis a questão que deveríamos ter como meta diária, pois quando mudamos e amamos simultaneamente, é esperado que essa mudança seja benéfica, ou seja, o mandamento divino de amar ao próximo necessariamente será respeitado de forma plena, sempre mirando o melhor para o coletivo e, consequentemente, para si. Parece-me ser o caminho mais próximo do que muitos chamam de missão. E na verdade nem preciso e nem quero falar de religião, pois acredito que o céu e o inferno estão dentro de cada um de nós. Seguir o menor caminho entre dois pontos nem sempre é o mais prazeroso, pois definitivamente na maioria das oportunidades que surgem diante de nós, os fins NÃO justificam os meios.

Essa introdução é para enfocar um livro que será lançado em Belo Horizonte (mais detalhes no site) intitulado "Dignidade", que são histórias contadas por 9 escritores que acompanharam o dia-a-dia da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF), narrativas recheados se humanidade, arte e ensinamentos.

Certamente irei adquirir esse livro, pois para mim é um presente poder assimilar por meio da literatura experiências vividas com ficção ou não, pois enfim esse mundo precário de pessoas em pleno estado de miséria que precisam de pessoas como nós, onde comemos no mínimo 3 vezes por dia e sobra dinheiro inclusive para o que chamamos de consumismo, isto é, comemos bem e ainda compramos aquilo que não se come. Enquanto em boa parte do planeta a luta é pela sobrevivência a fim de garantir o mínimo de alimento necessário para continuar com sinais vitais. E nesse momento provo o que estou falando, já que vou justamente COMPRAR o livro "Dignidade", já que sobrou dinheiro e não estou com fome. Mas assim caminhamos, "...avançando dois, recuando um, mas seguindo sempre" (Quinteto Agreste)

Moral da História: se você tem a sorte de comer adequadamente e ainda sobrar capital, então sugiro a leitura do seguinte livro (já é possível comprá-lo na Livraria Cultura):

DIGNIDADE: http://ow.ly/bxpkq

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

"Senta que lá vem o médico!" (2)

Parecia um dia como qualquer outro...

Plantão noturno no Hospital Antônio Prudente: relativamente tranquilo...

Dia seguinte, sair do plantão e pegar a BR-116: nem tão tranquilo assim... Sono é inversamente proporcional ao bom humor.

Novo destino: Hospital Penal, onde já trabalho desde Dezembro de 2011, local aparentemente tranquilo, e é nesse ambiente que hoje discorro sobre nossa nova história.

Impressionante como o homem almeja o poder. E o homem necessita poder pisar usando o poder! Enfim, após esse trocadilho pouco feliz, esse é o cotidiano no hospital penal onde trabalho como médico clínico plantonista e lá atendo presos doentes internados. Exatamente isso, sou médico de presos ou internos, conforme o leitor preferir. Claro que surgem consultas de funcionários, até exageram o fato de ter médico disponível, porém meu papel único e principal é atender os pacientes presidiários.

E no hospital penal funciona da seguinte forma: o preso chega com sintomas, geralmente encaminhado de sua  penitenciária de origem ou delegacia, o mesmo (agora paciente) é admitido com os mais variados problemas: desde um grau de subnutrição (encontrado na maioria dos casos até tuberculose ou até mesmo câncer, além de traumas em geral).

Bom, na verdade a minha ideia nesse contexto é introduzir as diversas histórias que já vivenciei nesse ambiente, dessa forma revivencio o momento de forma autorreflexiva! Nossa história de hoje receberá o título de "O que é uma bala na cabeça quando se leva uma surra?"

Paciente chegou no fim do meu plantão no hospital penal quando percebi sua hemiface esquerda inchada (edemaciada) sugestivo de trauma e achava inclusive que esse trauma era o motivo do atendimento médico-hospitalar, mas não era, pois na verdade esse paciente foi vítima há 6 meses de perfuração por projétil de arma de fogo, e a cabeça foi o local atingido. Paciente sobreviveu e na verdade sua queixa era uma dor de cabeça forte, porém numa situação de descontrole, o preso xingou um dos agentes em sua penitenciária, então prontamente a resposta ao xingamento foi uma surra...

Enfim, o que estava em jogo na consulta era a surra e não mais a perfuração por bala de 6 meses atrás. Baixei a cabeça, indignado por tamanha perversidade com alguém que, cometeu seu crime, está pagando, porém  a impressão que passa é que só isso não basta, é preciso ser humilhado, ser espancado, sofrer o dia a dia de cada vez, como um inferno ainda em vida.

O que me importa é ter a possibilidade real de levar a saúde às pessoas, porém nesse trabalho onde é travado o eterno conflito Agentes Penitenciários versus Presidiários o profissional de saúde muitas vezes rema contra a maré, e nada mais estou fazendo que justificar minha formação de cuidar de seres humanos, assim gritei em alto e bom no tal juramento de Hipocrates.

Esse crime praticado contra alguém já detido e indefeso chama-se tortura e seria um exemplo clássico de covardia, beirando o patológico!

Enfim, o preso foi admitido, realmente precisava ser internado após tamanho exemplo de autoridade por parte da polícia ao traumatizar o rosto do rapaz.

E o guarda que o espancou? Provavelmente já não foi a primeira nem a última vez que bateu em alguém, então na verdade ele está mais como vítima, por ter aflorado sua agressividade como reflexo de um sistema carcerário falido, efeito feedback positivo: quanto mais o preso provoca, mais a polícia bate. E isso, lamentavemente, não é novidade para ninguém, na verdade trata-se de apenas uma constatação.