quinta-feira, 11 de março de 2010

Seu dia merece?

Era domingo. Saí do hospital depois de um dia estressante... Estava de bicicleta e adorei estar de bicicleta, mesmo cansado, já que andar de bicicleta é sempre uma atividade que me revigora. Como eu estava de mal humor, então aproveitei que para me propor o seguinte desafio: eu tinha que chegar de bom humor em casa enquanto pedalava. Resolvi fazer uma espécie de jogo do contente, ou seja, eu só ia visualizar ou observar aquilo ou aquele(a) que despertar em mim um sentimento bom, caso contrário eu ignoraria. Assim eu fiz, pelo menos tentei... Sei que parece um joquinho que beira o que definimos por patético, mas peço ao leitor que continue a ler o texto, enfim lembre-se que esse texto tem um final, para a felicidade daqueles que estão pensando em bloquear essa página.

Iniciei minha pedalada saindo do hospital, quando vi um garoto que "cuida" dos carros no estacionamento do hospital. Esse cara é um mala que tem retardo mental leve a moderado e usufrui dessa "vantagem" para perturbar os outros, inclusive eu, pedindo dinheiro a todos aqueles que estacionam o carro (ou a bicicleta) no hospital. Então eu pensei: "Esse cara não me desperta um sentimento bom, logo vou sublimá-lo!". Então desviei meu campo de visão e não o vi mais. A pedalada continuava, e eu em busca de acontecimentos felizes pelo caminho. Eu estava contra o vento, o que tornava a pedalada mais difícil e cansativa, mas isso poderia ser bom, enfim o vento no rosto é muito agradável, porém o vento era quente, devido o clima de Sobral, enfim estou me referindo a uma rua de Sobral às 16h, ou seja, o vento é um verdadeiro bafo, bastante quente. Então resolvi esquecer o vento. O sol escaldante, fervendo meus miolos, começou a incomodar, fazendo-me excretar o suor que não evaporava, impregnando minhas vestes que grudavam na minha pele como guardanapo molhado. Então eu disse para o Sol: “Sol, você não está me despertando sentimentos agradáveis, por isso vou esquecê-lo até pelo menos você se pôr.” E assim continuei minha pedalada sem retardos mentais, sem vento e sem sol. Mas não adiantava, verdadeiros karmas me perseguiam nesse dia: um cachorro correu atrás de mim, passei por cima de um buraco e me desequilibrei, passei por um bar e observei na televisão que meu time estava perdendo, a corrente da bicicleta saiu e me melei de graxa quando a coloquei de volta,...

Foi quando percebi que já estava bem próximo de casa e meu mal humor só havia aumentado exponencialmente. Então parei a bicicleta, olhei para o horizonte e avistei uma linda montanha, majestosa, colorida pelo fim da tarde. O silêncio imperava, um vento de final de tarde envolvia as árvores e essas correspondiam com um som terapêutico das folhas em contínuo movimento, além das folhas secas que caíam ao chão, renovando as copas. Respirei e refleti: “Como posso negar o sol, o vento, o cachorro, o futebol, minha própria bicicleta? E quem está com déficit mental nesse momento, além de mim?”.

Então as cores do céu sugeriam o pôr do sol... Nesse contexto, fiz uma análise retroativa:

- Um paciente psiquiátrico que consegue ter uma vida sociável, arrecadando sua própria renda em pleno domingo: isso é positivo e deve ser valorizado!

- O vento estava quente e contra minha direção: as marchas da bicicleta compensavam a resistência do vento e é melhor qualquer vento que clima abafado.

- O sol escaldante: sempre é bem-vindo, principalmente fim de tarde. E o suor está vinculado a qualquer atividade física, como uma boa pedalada.

- O cachorro: ele correu, mas não me pegou. O buraco: desequilibrei, mas não caí, além do que o buraco já estava lá. A corrente da bicicleta: sujei-me de graxa, mas consegui colocar a corrente, evitando que eu voltasse a pé. O time: ainda era primeiro tempo, depois descobri que o jogo foi para os pênaltis e meu time venceu.

Concluindo: cheguei em casa, tomei um bom banho, fui ler um bom livro e vi que podemos ter sempre um bom dia, desde que façamos por onde esse dia merecer.