segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Que Rei sou eu?!

Um dia me disseram: "Davi, o Rei que matou o gigante Golias!"

Quando criança, quase pré-adolescente, assistia às aulas de orientação cristã e a história do Rei Davi sempre era uma das mais pedidas, inclusive por mim. Achava interessante a história do caquético sem armadura (Davi) que derrubava um gigante (Golias) com uma pedra na testa. Eu ficava pensando: "Poxa, isso é que eu chamo de pedrada!". E após a queda de Golias ao chão, Davi arranca-lhe a cabeça com sua espada. Épico, não?

Mas os anos se passaram, as aulas de história foram ficando mais interessantes, professores mais críticos e que questionavam tudo, inclusive a Bíblia. Então na verdade Davi foi colocado como um líder de um exército despreparado e sem armas (os israelitas), porém com fé, e Golias representava o exército megalomaníaco e poderoso dos Filisteus. O provável e esperado seria o fraco exército de Davi ser massacrado e virar somente cinzas, porém os Filisteus perderam a batalha, ou na visão metafórica bíblica, o gigante e temido Golias (que talvez nunca tenha existido) foi acertado com uma pedra na testa e caiu. A pedra simboliza a suposta vulnerabilidade do exército de Israel que deviam usar pedras durante a batalha devido a falta de armas. Interessante porque hoje os palestinos estão na mesma situação de Israel na época da invasão dos Filisteus. Hoje os israelenses são os poderosos e temidos Filisteus e o esperado e o provável está acontecendo: os palestinos e seus Davis árabes estão perdendo a batalha. Essa história não iria para a Bíblia, pois a corda romper do lado mais fraco não traz lição nem moral nenhuma.

Por que tudo isso? Talvez por que meu nome é David (com "d" no final mesmo), mas nunca liderei um exército nem mesmo os fracos soldados de Davi e nunca briguei com um gigante. Mas é inevitável tentar achar um paralelo, ainda utilizando o recurso de linguagem metáfora.

Na saúde pública nós temos: má gestão administrativa, profissionais mal remunerados ou desestimulados, pacientes que sobrevivem com uma estrutura muitas vezes sucateada e fora dos padrões de higiene que são recomendadas . Além disso temos a corrupção, a verba mal distribuída na saúde e profissionais mal treinados, mal qualificados e sem ética. Acho que juntando essas mazelas daria um exército de Filisteus com louvor.

Eu estou do outro lado, o mais fraco, remando contra a maré. Mas não estou só, amém! E a própria saúde pública tem seus avanços e saltos, senão meu discurso seria demagogo e hipócrita. Então manter o que está bom e tentar mudar o que não está bom é o ideal. Mas acertar uma pedra na testa de um gigante e faze-lo perder a consciência não é fácil, além do que eu sou péssimo de pontaria.

Um dos Salmos de Davi diz o seguinte (Livro IV, Salmo 101):

"Cantarei a bondade e a justiça;

a ti, Senhor, cantarei.

Atentarei sabiamente

ao caminho da perfeição.

Oh! Quando virás ter comigo?

Portas a dentro, em minha casa,

terei coração sincero.

Não porei coisa injusta

diante dos meus olhos;

aborreço o proceder dos que se desviam;

nada disto se me pegará.

Longe de mim o coração perverso;

não quero conhecer o mal.

Ao que às ocultas calunia o próximo,

a esse destruirei;

o que tem olhar altivo e coração soberbo,

não o suportarei.

Os meus olhos procurarão

os fiéis da terra,

para que habitem comigo;

o que anda em reto caminho,

esse me servirá.

Não há de ficar em minha casa

o que usa de fraude;

o que profere mentiras não permanecerá

ante os meus olhos.

Manhã após manhã, destruirei

todos os ímpios da terra,

para limpar a cidade do Senhor

dos que praticam a iniquidade."

Acima temos uma declaração dos padrões éticos regidos na época pelo Rei Davi. Hoje esse texto perdeu seu valor, pois a ética é vista como disciplina, e não é mais uma escolha. E para finalizar, fazendo menção ao Dom Quixote (o Rei Davi de Miguel de Cervantes), cito um refrão que sintetiza a ideologia quixotiana:

"Tudo bem, até pode ser que os Dragões sejam Moinhos de Vento. Tudo bem, seja o que for, mas que seja por amor às causas perdidas" (Engenheiros do Hawaii)

Fica a reflexão: Davi foi rei porque foi usado por Deus (e temeu a Ele) ou porque lutou pela boa ética?

Enfim, meu filho não se chamará Salomão, não sou caquético e meu alvo é péssimo, além do que acho que sempre há alguma saída melhor que acertar uma pedra na testa de alguém.

Mas Davi é o nome do homem mais citado na Bíblia, isso é relevante e deve ser divulgado, pois seus ensinamentos são magníficos. O meu nome ser o mesmo dele é mera coincidência e me serviu de pretexto para eu escrever esse texto. Amém.

Nenhum comentário:

Postar um comentário