sábado, 22 de maio de 2010

Aos amigos...


  • São aqueles que o fazem estudar, mas também o convencem a sair de casa para a gandaia.
  • São aqueles que riem com você, mas também choram com você, embriagados ou não.
  • São aqueles que cuidam de você, mas permitem que você coma e beba o que faz mal.
  • São aqueles que o respeitam diante de outras pessoas, mas frescam e tiram onda desde que haja bom senso.
  • São aqueles que o elogiam, mas também o xingam, desde que seja na sua frente e sem humilhar.
  • São aqueles que não o esquecem, porém são capazes de o largar por qualquer atrativo maior.
  • São aqueles que o ajudam, mas se você negar a ajuda, então vai ser ajudado à força mesmo.
  • São aqueles que lhe oferecem a mão, e até o braço se necessário, mas não ultrapassa disso, pois pode não ser bem visto perante a sociedade.
  • São aqueles que botam a mão no fogo por você, porém é sempre bom ter um balde d'água na outra mão, por precaução.
  • São aqueles que querem seu sucesso, desde que não se separem, pois se isso acontecer, melhor mesmo é todo mundo cair na desgraça, desde que juntos.
  • São aqueles que você pode contar 24 horas por dia, mas se for madrugada, prepare-se para a recepção nada pacífica.
  • São aqueles que são cupidos, mas nunca custa nada perguntar se tem alguma amiga disponível.
  • São aqueles que lhe oferecem o ombro, desde que seja apenas uma metáfora ou ressaca mesmo.
  • São aqueles que o defendem a todo custo, mas em determinadas situações melhor correr mesmo e cada um por si.
  • São aqueles que o colocam no céu, mas dependendo do montinho a queda é certa e preferencialmente violenta.
  • São aqueles que topam ir a um encontro formal e chato com você, desde que na volta o bar mais próximo seja parada obrigatória.
  • São aqueles que o auxiliam a seguir o melhor caminho, mas para isso é necessário conseguir andar em linha reta.
  • São aqueles que teriam orgulho em vê-lo namorando sua irmã... pensando bem, não mesmo.
  • Em resumo, são aqueles que o amam, por isso são amigos, já que sem amor nada seriam.



quinta-feira, 11 de março de 2010

Seu dia merece?

Era domingo. Saí do hospital depois de um dia estressante... Estava de bicicleta e adorei estar de bicicleta, mesmo cansado, já que andar de bicicleta é sempre uma atividade que me revigora. Como eu estava de mal humor, então aproveitei que para me propor o seguinte desafio: eu tinha que chegar de bom humor em casa enquanto pedalava. Resolvi fazer uma espécie de jogo do contente, ou seja, eu só ia visualizar ou observar aquilo ou aquele(a) que despertar em mim um sentimento bom, caso contrário eu ignoraria. Assim eu fiz, pelo menos tentei... Sei que parece um joquinho que beira o que definimos por patético, mas peço ao leitor que continue a ler o texto, enfim lembre-se que esse texto tem um final, para a felicidade daqueles que estão pensando em bloquear essa página.

Iniciei minha pedalada saindo do hospital, quando vi um garoto que "cuida" dos carros no estacionamento do hospital. Esse cara é um mala que tem retardo mental leve a moderado e usufrui dessa "vantagem" para perturbar os outros, inclusive eu, pedindo dinheiro a todos aqueles que estacionam o carro (ou a bicicleta) no hospital. Então eu pensei: "Esse cara não me desperta um sentimento bom, logo vou sublimá-lo!". Então desviei meu campo de visão e não o vi mais. A pedalada continuava, e eu em busca de acontecimentos felizes pelo caminho. Eu estava contra o vento, o que tornava a pedalada mais difícil e cansativa, mas isso poderia ser bom, enfim o vento no rosto é muito agradável, porém o vento era quente, devido o clima de Sobral, enfim estou me referindo a uma rua de Sobral às 16h, ou seja, o vento é um verdadeiro bafo, bastante quente. Então resolvi esquecer o vento. O sol escaldante, fervendo meus miolos, começou a incomodar, fazendo-me excretar o suor que não evaporava, impregnando minhas vestes que grudavam na minha pele como guardanapo molhado. Então eu disse para o Sol: “Sol, você não está me despertando sentimentos agradáveis, por isso vou esquecê-lo até pelo menos você se pôr.” E assim continuei minha pedalada sem retardos mentais, sem vento e sem sol. Mas não adiantava, verdadeiros karmas me perseguiam nesse dia: um cachorro correu atrás de mim, passei por cima de um buraco e me desequilibrei, passei por um bar e observei na televisão que meu time estava perdendo, a corrente da bicicleta saiu e me melei de graxa quando a coloquei de volta,...

Foi quando percebi que já estava bem próximo de casa e meu mal humor só havia aumentado exponencialmente. Então parei a bicicleta, olhei para o horizonte e avistei uma linda montanha, majestosa, colorida pelo fim da tarde. O silêncio imperava, um vento de final de tarde envolvia as árvores e essas correspondiam com um som terapêutico das folhas em contínuo movimento, além das folhas secas que caíam ao chão, renovando as copas. Respirei e refleti: “Como posso negar o sol, o vento, o cachorro, o futebol, minha própria bicicleta? E quem está com déficit mental nesse momento, além de mim?”.

Então as cores do céu sugeriam o pôr do sol... Nesse contexto, fiz uma análise retroativa:

- Um paciente psiquiátrico que consegue ter uma vida sociável, arrecadando sua própria renda em pleno domingo: isso é positivo e deve ser valorizado!

- O vento estava quente e contra minha direção: as marchas da bicicleta compensavam a resistência do vento e é melhor qualquer vento que clima abafado.

- O sol escaldante: sempre é bem-vindo, principalmente fim de tarde. E o suor está vinculado a qualquer atividade física, como uma boa pedalada.

- O cachorro: ele correu, mas não me pegou. O buraco: desequilibrei, mas não caí, além do que o buraco já estava lá. A corrente da bicicleta: sujei-me de graxa, mas consegui colocar a corrente, evitando que eu voltasse a pé. O time: ainda era primeiro tempo, depois descobri que o jogo foi para os pênaltis e meu time venceu.

Concluindo: cheguei em casa, tomei um bom banho, fui ler um bom livro e vi que podemos ter sempre um bom dia, desde que façamos por onde esse dia merecer.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Hino do Elefante

Geralmente começo a escrever sem saber exatamente sobre que assunto vou discorrer. Deve ser por isso que as últimas palavras que adiciono a um texto é o título, geralmente.

Estou há poucos dias de Recife, pois um estágio de Nefrologia no Hospital das Clínicas da UFPE me espera. Estágio esse difícil de conseguir, porém com persistência e estratégia se consegue tudo ou quase tudo. É óbvio que o mês do estágio ser justamente fevereiro não é mera coincidência, pois temos a festa mais esperada por um pernambucano e milhares de brasileiros: o carnaval! Tudo bem, temos carnaval em Salvador (o bom baiano também não perde), no Rio de Janeiro (o típico carioca também não perde), mas acontece que o carnaval de Olinda-Recife eu também não perco, enfim sou cearense e admito em alto e bom som que o carnaval do meu estado é dispensável, pois desconsidero os carnavais de praia e suas disputas de paredões de som e a tentativa sempre frustrante de Fortaleza tentar imitar o Carnaval de Sapucaí (RJ). Os carnavais que mais me senti à vontade no Ceará foi de 2001 à 2006 quando frequentei assiduamente o Festival de Jazz e Blues em Guaramiranga (Maciço de Baturité), mas esse evento era uma fuga do carnaval. Em 2007 em diante migrei do pacífico e anti-carnavalesco Festival de Jazz e Blues para um dos maiores carnavais populares do Brasil: Olinda-Recife. E não penso em deixar de ir tão cedo, a partir do livre arbítrio, pois Olinda tem a fórmula que pedi em um carnaval: cores excessivas, alegria, overdose de cultura, pessoas especiais (amigos, artistas...), música de qualidade e Olinda! E de bônus existem os shows gratuitos à noite em Recife Antigo, um berço da cultura nordestina. A minha idéia inicial não era fazer merchandising do carnaval de Pernambuco, por isso vou desviar o foco um pouco, sem fugir do tema, senão zero a redação!

Antes eu via o carnaval com certa angústia, pois o país parava, nada funcionava, apenas farra, lixo, zoada, farra, lixo, mais zoada... Hoje eu encaro como um mal necessário, como Chico Buarque poeticamente interpreta em uma de suas magníficas letras:

"Quem me vê sempre parado, distante garante que eu não sei sambar

Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

Eu tô só vendo, sabendo, sentindo, escutando e não posso falar

Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

Eu vejo as pernas de louça da moça que passa e não posso pegar

Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

Há quanto tempo desejo seu beijo molhado de maracujá

Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

E quem me ofende, humilhando, pisando, pensando que eu vou aturar

Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

E quem me vê apanhando da vida duvida que eu vá revidar

Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

Eu vejo a barra do dia surgindo, pedindo pra gente cantar

Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

Eu tenho tanta alegria, adiada, abafada, quem dera gritar

Tô me guardando pra quando o carnaval chegar"

(Chico Buarque)

Além do Chico, o ladrão (que lucra mais mais no carnaval, inclusive de mim), a puta (que também lucra mais e se iguala a qualquer patricinha no carnaval), o político (que aprova mais leis a seu favor e não tem o povo pra encher o saco, já que o povo estará embriagado ou de ressaca), o gringo (que vem para o Brasil e encontra as mulheres embriagadas e "solícitas"), o pastor (que acredita que no carnaval o satanás está dominando e prega fervorosamente no carnaval crendo que ele, o pastor, será um dos poucos a ser salvo), todos esses estão se guardando para o carnaval chegar. Até a família que deseja descansar no carnaval, usa o carnaval como feriadão e une a família em locais que ainda tem paz no carnaval (acreditem, carnavalescos de plantão, esses locais existem!)

E eu também estou me guardando, já que o carnaval nada mais é que uma válvula de escape, onde ainda é possível uma festa democrática de graça e multicultural. Assim é Olinda, amém!

"Se a única coisa que de o homem terá certeza é a morte; a única certeza do brasileiro é o carnaval no próximo ano" (Graciliano Ramos)

"Olinda! Quero cantar a ti esta canção

Teus coqueirais, o teu sol, o teu mar

Faz vibrar meu coração, de amor a sonhar

Em Olinda sem igual

Salve o teu Carnaval!"

(Hino do Elefante)

Obs.: agora posso criar o título do texto!

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Que Rei sou eu?!

Um dia me disseram: "Davi, o Rei que matou o gigante Golias!"

Quando criança, quase pré-adolescente, assistia às aulas de orientação cristã e a história do Rei Davi sempre era uma das mais pedidas, inclusive por mim. Achava interessante a história do caquético sem armadura (Davi) que derrubava um gigante (Golias) com uma pedra na testa. Eu ficava pensando: "Poxa, isso é que eu chamo de pedrada!". E após a queda de Golias ao chão, Davi arranca-lhe a cabeça com sua espada. Épico, não?

Mas os anos se passaram, as aulas de história foram ficando mais interessantes, professores mais críticos e que questionavam tudo, inclusive a Bíblia. Então na verdade Davi foi colocado como um líder de um exército despreparado e sem armas (os israelitas), porém com fé, e Golias representava o exército megalomaníaco e poderoso dos Filisteus. O provável e esperado seria o fraco exército de Davi ser massacrado e virar somente cinzas, porém os Filisteus perderam a batalha, ou na visão metafórica bíblica, o gigante e temido Golias (que talvez nunca tenha existido) foi acertado com uma pedra na testa e caiu. A pedra simboliza a suposta vulnerabilidade do exército de Israel que deviam usar pedras durante a batalha devido a falta de armas. Interessante porque hoje os palestinos estão na mesma situação de Israel na época da invasão dos Filisteus. Hoje os israelenses são os poderosos e temidos Filisteus e o esperado e o provável está acontecendo: os palestinos e seus Davis árabes estão perdendo a batalha. Essa história não iria para a Bíblia, pois a corda romper do lado mais fraco não traz lição nem moral nenhuma.

Por que tudo isso? Talvez por que meu nome é David (com "d" no final mesmo), mas nunca liderei um exército nem mesmo os fracos soldados de Davi e nunca briguei com um gigante. Mas é inevitável tentar achar um paralelo, ainda utilizando o recurso de linguagem metáfora.

Na saúde pública nós temos: má gestão administrativa, profissionais mal remunerados ou desestimulados, pacientes que sobrevivem com uma estrutura muitas vezes sucateada e fora dos padrões de higiene que são recomendadas . Além disso temos a corrupção, a verba mal distribuída na saúde e profissionais mal treinados, mal qualificados e sem ética. Acho que juntando essas mazelas daria um exército de Filisteus com louvor.

Eu estou do outro lado, o mais fraco, remando contra a maré. Mas não estou só, amém! E a própria saúde pública tem seus avanços e saltos, senão meu discurso seria demagogo e hipócrita. Então manter o que está bom e tentar mudar o que não está bom é o ideal. Mas acertar uma pedra na testa de um gigante e faze-lo perder a consciência não é fácil, além do que eu sou péssimo de pontaria.

Um dos Salmos de Davi diz o seguinte (Livro IV, Salmo 101):

"Cantarei a bondade e a justiça;

a ti, Senhor, cantarei.

Atentarei sabiamente

ao caminho da perfeição.

Oh! Quando virás ter comigo?

Portas a dentro, em minha casa,

terei coração sincero.

Não porei coisa injusta

diante dos meus olhos;

aborreço o proceder dos que se desviam;

nada disto se me pegará.

Longe de mim o coração perverso;

não quero conhecer o mal.

Ao que às ocultas calunia o próximo,

a esse destruirei;

o que tem olhar altivo e coração soberbo,

não o suportarei.

Os meus olhos procurarão

os fiéis da terra,

para que habitem comigo;

o que anda em reto caminho,

esse me servirá.

Não há de ficar em minha casa

o que usa de fraude;

o que profere mentiras não permanecerá

ante os meus olhos.

Manhã após manhã, destruirei

todos os ímpios da terra,

para limpar a cidade do Senhor

dos que praticam a iniquidade."

Acima temos uma declaração dos padrões éticos regidos na época pelo Rei Davi. Hoje esse texto perdeu seu valor, pois a ética é vista como disciplina, e não é mais uma escolha. E para finalizar, fazendo menção ao Dom Quixote (o Rei Davi de Miguel de Cervantes), cito um refrão que sintetiza a ideologia quixotiana:

"Tudo bem, até pode ser que os Dragões sejam Moinhos de Vento. Tudo bem, seja o que for, mas que seja por amor às causas perdidas" (Engenheiros do Hawaii)

Fica a reflexão: Davi foi rei porque foi usado por Deus (e temeu a Ele) ou porque lutou pela boa ética?

Enfim, meu filho não se chamará Salomão, não sou caquético e meu alvo é péssimo, além do que acho que sempre há alguma saída melhor que acertar uma pedra na testa de alguém.

Mas Davi é o nome do homem mais citado na Bíblia, isso é relevante e deve ser divulgado, pois seus ensinamentos são magníficos. O meu nome ser o mesmo dele é mera coincidência e me serviu de pretexto para eu escrever esse texto. Amém.